quinta-feira, 4 de novembro de 2010

União Civil ou Casamento?

Texto por Marcos Blasques
sobre União Civil (hetero E homo) e Casamento (hetero E homo)...


Dois senhores tomam café num restaurante, surge o assunto...
P1 - (...) Meu irmão casou no civil!
P2 - Ah! Que bom! Ele se uniu no civil?
P1 - Não, ele casou mesmo. Só que foi só no civil.
P2 - Sei, desculpe-me é que considero dizer "Casamento Civil" um grande erro.
P1 - O quê? Que ridículo! Se um homem e uma mulher se amam e querem se casar civilmente... Por que isso seria errado?
P2 - Pois não é assim que nós, a sociedade, deveríamos chamar a União Civil. A palavra casamento deveria ser usada para o ato de fé, praticado em diversas crenças e religiões, apenas.
P1 - Mas... Não dá na mesma?
P2 - Não. Ao chamarmos a União Civil de Casamento, por exemplo "Fulano e Cicrana casaram-se no civil" estamos estimulando preconceito e mistura entre religião, valores sociais de conduta e direitos das pessoas. Aí quando dois homens ou duas mulheres desejam se unir civilmente, essa imbecilidade homofóbica faz a população hetero ficar eufórica, achando que se unindo, essas pessoas estão perventendo os valores éticos cristãos... Na verdade, são famílias também. Querendo a população hetero ou não. Fazem parte da sociedade e merecem ter direitos comuns.
P1 - Peraí! Então você está dizendo que não podemos mais dizer que alguém casou só no civil?
P2 - Exatamente. E mais: acho que se fossem três pessoas querendo se unir no civil, quatro, cinco, seis, sete, etc, independente dos sexos das pessoas interessadas na união, isso deveria ser permitido legalmente da mesma forma.
P1 - Isso não vai dar certo. É loucura!
P2 - Querendo as pessoas ou não, elas não se "casaram" no civil, elas se uniram civilmente como cidadãos. O nome "casamento civil" tem que ser totalmente extinto. Ele estimula preconceito contra a união civil entre gays, lésbicas e outras formações. Casamento é algo que deve ser um ato de fé, praticado pelas pessoas nos agrupamentos religiosos conforme elas acreditarem em cada lugar.
P1 - Ah, então você acha que gays e lésbicas não podem se casar!
P2 - Não, eles podem se casar!
P1 - Como assim! Se você está dizendo que o termo "casamento" deve ser usado somente em atos de fé, então...
P2 - Quem disse que gays e lésbicas não acreditam em Deus ou que não são espiritualizados? Quem disse para você que eles não acreditam em nada? Você acha que eles são ateus?
P1 - Ei, mas aí você está dizendo que eles poderiam se casar! Duvido que padres, pastores, anciãos vão aceitar!
P2 - Alguns vão, outros não. Todos tem direito de acreditar como querem no Brasil não é?
P1 - Por isso mesmo ninguém é obrigado a fazer "casamento de gay"!
P2 - Exatamente! E porque seria assim?
P1 - Ora! Eu não sou obrigado a ver gays se casando! Vai contra os meus princípios sobre o que é errado ou certo!!!
P2 - Não, você não é obrigado a nada. Não é obrigado a permanecer membro de um agrupamento religioso que possibilite o acontecimento de casamentos gays. Né?
P1 - Ora... Bem... É que eles íam querer se casar nas igrejas!
P2 - ...que aceitassem o casamento entre eles. É evidente que os gays e lésbicas não estão interessados nem um pouco em se casar em igrejas ou outros agrupamentos religiosos quaisquer que não os aceitem como eles são... Não é mesmo? Você se casaria?
P1 - Eu? Eu não! Eu sou hetero! E muito bem casado com uma mulher gostosa. Somos cristãos e vamos pro céu!
P2 - (suspiro) Ok, sendo hetero. Você se casaria numa igreja gay?
P1 - Nunca! Eles vão para o inferno!
P2 - Bem, essa é a sua opinião de fé. Assim como você dirá também que pessoas de outras religiões que não confessam e praticam as mesmas coisas que você irão todas para o inferno. Mas isso não importa agora nessa conversa. Você e as pessoas pertencentes a esses agrupamentos religiosos que acreditam nos seus valores tem o direito social de continuar existindo e praticando o que acreditam. O que importa é que você falou o que eu sabia que falaria. E, certamente, é o mesmo que muitos deles falariam.
P1 - Você também vai para o inferno! Você está defendendo esses promíscuos! Você deve ser gay também!
P2 - Não vou para o inferno. Defendo os direitos civis iguais entre os cidadãos. Não sou gay. E, no meu caso particular, sou cristão.
(passa uma mulher bonita com roupinhas apertadinhas, pisca e dá um selinho em P1, vai embora)
P1 - Orra! Olha só essa gata! Peguei ela semana passada! "10 conto" só!!!
P2 - Vejo que passou por aqui a sua esposa!
P1 - Quê? - indignado
P2 - Você disse que é casado. Cristão! E que vai para o céu. Então essa deve ser sua mulher.
P1 - (silêncio)
P2 - Ouvi falar que querem legalizar a profissão de sua esposa. Que bom não é? Para ela poder trabalhar sem ser explorada aqui nas ruas por caras como você.
P1 - Tô casado, mas tô vivo!
P2 - Sim, está vivo agora. Quando você estiver morto, estará no inferno. Afinal, assim como ser "gay ou lésbica" é um pecado para você, traição e hipocrisia também. Não é mesmo?
P1 - (momento de silêncio) Cala a boca! Você apoia gays! E outra, minha mulher é uma gorda... Logo vou largar ela e aquela pirralhada! Mulecada maldita que não aprende nada direito! Só gasta!
P2 - Pensei que tinha ouvido você dizer que sua esposa era... "gostosa".
P1 - (silêncio reflexivo) Você escutou errado! Eu disse... "gulosa".
P2 - Gula é pecado também não é? Isso deve levar ela para o inferno heim?! Aliás, você já comeu uns quatro lanches e está em seu terceiro café. Seu umbigo deve estar saltando.
P1 - (Silêncio)
P2 - Na verdade, conheço um casal de gays que tem dois filhos maravilhosos, filhos heteros. As crianças deles estudam na mesma escola que os meus filhos e são grandes amigos. Sempre convido eles para virem para a minha casa e vou bastante para lá. São um casal incrível! Muito estáveis, unidos, grandes amigos e ótimos pais. Eles tem uma menina e um menino, em parceria com um casal de lésbicas, que também são lindas e unidas. A família toda é muito bonita. Eles gostam muito da minha esposa, a gordinha mais adorável desse planeta. Não troco ela nem por um milhão de ditas esbeltas. Não casei com a silueta dela, mas com ELA. Tenho filhos ótimos.
P1 - Que bom pra você! (interesse repentino) Ei, já viu essas lésbicas aí se pegando nos beijos?
P2 - Disso você gosta... Né?
P1 - Claro!
P2 - Não era pecado?
P1 - (silêncio)
P2 - Bom, nunca vi eles se beijando loucamente. Nem os gays e nem as lésbicas. Sabe, eles nos respeitam muito e... além do mais, eles se arriscariam muito.
P1 - Como assim se arriscariam?
P2 - As pessoas podem esmurrá-los na rua. Isso acontece o tempo todo! Há muita gente preconceituosa que não aceita ver a felicidade deles.
P1 - Que nada! Ninguém querem é ver essa gente fazendo safadeza indecente!!!
P2 - Até agora a pouco, você estava babando de vontade de ver as lésbicas se beijarem.
P1 - (silêncio)
P2 - Diga-me uma coisa: Você beija as mulheres em público?
P1 - Claro!
P2 - Não acha isso pervertido?
P1 - Não é normal!
P2 - Então, se não quer que os gays e as lésbicas beijem na rua, terá que parar de beijar também.
P1 - O quê? Nunca!
P2 - Se você acha que você tem direito de se unir civilmente, de beijar e abraçar mulheres na rua livremente e que eles vão ser forçados a viver escondidos, está muito enganado e...
(o telefone de P2 toca)
P2 - ...um momento! - Alô! Claro filho! Claro! Pode ir sim! (...) Te amo também! Tchau!
P1 - Poxa, você deve ser um pai e tanto mesmo! Meu filho me odeia! Nunca me liga pra pedir nada!
P2 - O meu filho me conta todas as coisas da vida dele. Sabe ele é gay.
P1 - Sinto muito!
P2 - Não sinta! Eu tenho orgulho do meu filho! Ele é um homem de verdade! E me ligou para avisar que sairá um pouco com o um rapaz "assim, assim, assado" para consolá-lo, um tal de P3.
(P1 arragala os olhos)
P2 - ...coitado do rapaz! Contou para a mãe que era gay, ela o expulsou de casa e disse que vai ligar agora mesmo e contar tudo para o pai dele. Parece que a mãe está em estado de choque de tanto preconceito que tem e que com o pai, certamente não será diferente e...
(o celular de P1 começa a tocar)
(P2 observa a expressão e movimentação de P1, saca tudo).
P1 - Alô mulher! (...) Já fiquei sabendo já do P3! Filho da... Eu sabia que esse pirralho não prestava!!! Eu vou arrebentar a boca desse muleque agora mesmo e ele vai sentir sim o que é a mão de um cara bem no meio da fuça! Aff... Eu vou matar esse muleque! (...)
(P2 vira para dentro o último gole de café afasta-se da mesa enquanto escuta ao longe as palavras de P1 pelo celular).
P1 - (...) Eu sei! Eu sei! Agora cala a boca sua vaca! Cala a boca! Você é imprestável! Sua mula!
P2 vai embora, deixando P1 para trás.

VOCÊ É UM SER HUMANO MELHOR QUE P1?

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